Pois, Torga sabia-se dono e detentor de uma prosa excelente, daí o ar de o dizer como quem não quer a coisa. Uma certa facilidade económica também deu um geitão quanto à possibilidade de independência relativamente ao meio, qualquer meio. Atrevo-me a lembrar, aqui, de Torga (A Criação do Mundo, Vol.I) essas frases soberbas:”Todos nós criamos o mundo à nossa medida. O mundo longo dos longevos e o curto dos que partem prematuramente. O mundo simples dos simples e o complexo dos complicados. Criamo-lo na consciência, dando a cada acidente, facto ou comportamento a significação intelectual ou afectiva que a nossa mente ou a nossa sensibilidade consentem. E o certo é que há tantos mundos como criaturas. Luminosos uns, brumosos outros, e todos singulares. O meu tinha de ser como é, uma torrente de emoções, volições, paixões e intelecções a correr desde a infância à velhice (…)”. Interrompo, para não abusar do espaço e tempo, consciente de que as frases seguintes são igualmente belas, intemporais e, apesar de autobiogáficas, do agrado de tantos.
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